Educação
Marcas da resistência indígena
Bibliotheca Pública recebe a Semana dos Povos Indígenas, com exposições e rodas de conversa com indígenas das comunidades Kaingang e Guarani
Jô Folha -
Até quinta-feira (18) ocorre a Semana dos Povos Indígenas na Bibliotheca Pública Pelotense, fruto de uma parceria com o curso de Antropologia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Escolas são convidadas a participar das atividades, que incluem exposições, apresentações, venda de artesanato e rodas de conversa com indígenas das comunidades Kaingang e Guarani. Alunos indígenas de diversos cursos da UFPel e residentes da cidade são os protagonistas dessa iniciativa, que visa desconstruir algumas ideias errôneas que se têm sobre os povos, mostrando quem realmente são e como persistem e resistem nos dias atuais, além de promover o contato e o respeito pela cultura. Um quilo de alimento (em especial massa, óleo, farinha e erva-mate) é solicitado. A mostra da exposição do acervo continua durante a próxima semana, como forma de celebrar o 19 de abril, Dia do Índio.
O Núcleo de Etnologia Ameríndia (Neta), através do Projeto de Extensão intitulado "Temática Indígena: Diversidade de Saberes", realiza há cerca de cinco anos atividades em diferentes escolas e instituições da cidade. Colaborações com as Secretarias de Educação e Desporto (Smed) e de Cultura (Secult) já foram firmadas, inclusive para promover a formação especial de professores no tema. O objetivo, segundo a professora Louise Alfonso, é clara: tentar desconstruir a ideia genérica que se tem sobre os povos indígenas. Isso porque cada povo tem sua cultura e formas diferentes de ver o mundo. São mais de 300 povos espalhados pelo Brasil, que falam cerca de 200 línguas. "Eles estão vivos, com a sua cultura", justifica. Parte do acervo exposto pertence à coordenadora do Neta, Lori Altmann, que morou com várias comunidades ao longo da vida. Outra parte é do próprio Museu Histórico da Bibliotheca.
Ao convidar estudantes, a equipe tem como objetivo mostrar que os povos indígenas existem até hoje. "Não são povos do passado", completa a professora Louise. Os pequenos saem de lá com outra percepção e, principalmente, com respeito pela cultura. Essa ideia também é desenvolvida com os alunos da escola Bruno Chaves, localizada no Rincão da Hidráulica, 9º Distrito. Nesta terça-feira (16), 23 alunos - de turmas da pré-escola até o quinto ano do ensino fundamental - e docentes prestigiaram a Semana dos Povos Indígenas na Bibliotheca. A diretora Zelaine Santana contou que desde 2008 existe o projeto "Todo Dia é Dia de Índio". No ano passado, as crianças visitaram a comunidade Kaingang em frente à Rodoviária de Pelotas, e convidaram os indígenas para ir até a instituição. A troca de conhecimento é incentivada e oferecida até mesmo aos pais e responsáveis. Ensinar a não discriminar e reconhecer os diferentes hábitos e costumes é o foco. "Queremos valorizar os reais donos dessa terra", ressalta.
Mais um dia de aprendizado
A terça-feira foi marcada por uma apresentação dos alunos da comunidade Kaingang. Lucíola Inácio Belfort é professora, escritora e atualmente também é discente da UFPel. Ela iniciou o contato com os pequenos explicando que "índio sai da aldeia e não deixa de ser índio". O Kainkang é o quarto maior povo do Brasil, com 45 mil indígenas. Porém, os números vêm baixando a cada ano, demonstrando a dimensão do genocídio indígena. "O Brasil foi invadido, não descoberto", reitera. Com ela, estavam Ailton da Silva, Abicael Moreira, Jaqueline Moreira, Jussara de Oliveira, Giovani Veloso, Rodrigo Laranjeira e Jonas da Silva.
As demonstrações eram feitas sob olhares atentos das crianças, que tomavam nota em seus cadernos e questionavam constantemente. Michel, de dez anos, aprovou a visita feita. Depois de ter contato com a cultura diferenciada, o pequeno mudou a percepção que tinha. Ele conta que se surpreendeu ao visitar a comunidade Kaingang com a escola em 2018, pois viu que os índios também utilizam de tecnologias como o Whatsapp, por exemplo. A sabedoria que os povos possuem também foi ressaltada por Michel, que citou o conhecimento de ervas e chás que só eles têm. "Através deles a gente sabe também", pontua.
Abicael Moreira, de 24 anos, é estudante de Educação Física e já foi bolsista do Projeto da professora Lori Altmann. Foi, inclusive, o primeiro indígena a fazer parte do grupo. Iniciativas como esta sediada na Bibliotheca Pública são importantes à medida em que se torna possível enaltecer a resistência e divulgar a cultura. Porém, não se deve apenas admirá-la, e sim respeitá-la. Ele lembra da existência do nove de agosto, Dia Internacional dos Povos Indígenas, que é pouco lembrado e, no entanto, é a data comemorada pelos próprios indígenas. "O índio tá sempre aqui, não só no dia 19 de abril", finaliza.
Carregando matéria
Conteúdo exclusivo!
Somente assinantes podem visualizar este conteúdo
clique aqui para verificar os planos disponíveis
Já sou assinante
Deixe seu comentário